sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dos meus sonhos mais dourados...

Um dia eu vou poder escolher quem vai ou não vai ser meu aluno. Se tem uma coisa muito, mas muito frustrante (e cada vez mais comum) é o seguinte:

* o aluno quer fazer inglês. Quer fazer inglês porque, por exemplo, pretende atuar na área de Direito Internacional. Porque acha bonito, porque acha que vai ganhar mais dinheiro.
* o aluno ainda não se formou na faculdade. Trabalha o dia inteiro e estuda a noite. O único tempo livre é ao meio dia e a noite.
* além disso, ainda tem família. Filhos, vida social.

Claro que esse aluno quer aprender inglês. Quem duvida da motivação dele? Quem acha que ele está mentindo? Ninguém. Mas eu acho que ele mente até para ele mesmo. Pois racionalmente, todo mundo sabe, inglês é fundamental e ele tem que aprender. Mas lá no fundo, no fundinho, ele meio que tipo assim sei lá não quer aprender taaaanto assim...
Pois o que acontece por conta disso? Ele joga 100% da responsabilidade na escola. Geralmente os alunos mais exigentes e mais "chatos" são justamente os dessa categoria, dos que não são assim exatamente tão afim de se esforçar para aprender.

Na primeira semana de provas na faculdade, ele começa a faltar no curso. E não pode repôr, pois não tem tempo livre (trabalha o dia inteiro e estuda a noite, lembra?). E depois o filho fica doente. Mais faltas. E daí não consegue acompanhar a aula seguinte direito, pois faltou as duas últimas. Tarefas então, sem comentários, na unidade 8 do livro ainda está fazendo a tarefa da 2. Diz saber que a tarefa é parte essencial do processo de aprendizagem, mas se soubesse de verdade, não deixaria acumular tantas.

E, em 100% dos casos, é esse o aluno que sai reclamando. Estudei em tal escola e não aprendi nada. Estudei com tal professor e ele não me ensinou nada. No formulário de trancamento, escreve: não me adaptei ao método. (????)

É engraçado como as pessoas em geral - e nesse caso especialmente os alunos - adoram achar culpados para a sua própria incompetência (tá vendo por que eu não posso falar disso no blog da escola onde trabalho?). Sempre me surpreendo com a dificuldade que as pessoas tem de se olhar no espelho. De se enxergar.

Então, daqui a alguns anos, eu vou poder escolher quem vai ser meu aluno. Eu vou fazer uma entrevista de pré-seleção, imperceptível, durante a explicação sobre o curso, o método, etc. Nessa apresentação vou incluir algumas perguntas para medir o quanto o aluno realmente é afim de aprender inglês, e se ele já tem alguma possibilidade de se apaixonar pela língua. Porque não se aprende inglês sem se apaixonar pela língua. Vou analisar quão mau-humorado ele é. Pois também acho que uma pessoa que entra na sala mau humorada não aprende nada. Inglês se aprende com humor, com emoção, com prazer, com risada. Aula de inglês não é reunião de negócios.
Depois de avaliada, eu já aviso a pessoa se tem vaga para ela no horário escolhido. Claro, para os promissores, terei vagas em todos os horários. Para os auto-enganadores, ops, essa turma está lotada...

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