terça-feira, 10 de novembro de 2009

Uniban

Eu queria muito falar alguma coisa sobre o caso do vestido curto da moça da Uniban, mas eu só conseguia pensar que o que aconteceu foi errado. Que as vaias e xingamentos foram errados. Se alguém perguntasse por que, eu só responderia: porque nada justifica a agressão.

E realmente, como uma jovem senhora da paz, eu sempre vou achar que nada justifica agressões.

Só que, lendo o post da Deborah Sá a respeito, eu pensei: é mesmo! É por isso! Sim, eu ainda engatinho quando o assunto é argumentação e fundamentação.
O que se ouve a torto e a direito, seja em comentários no vídeo, em blogs, em comunidades no orkut sobre o caso é que a tal moça sabia o que estava fazendo, que deveria ter tido mais cuidado na escolha da roupa. Mas vi comentários piores, muitos, dizendo que ela PEDIU pelo que aconteceu, que ela deveria esperar tais reações, que ela chamou. Já vi até gente dizendo que ela "transgrediu as regras básicas para se conviver em sociedade", e por isso foi punida. Regras básicas???
Quando alguns respondem que ela tem o direito de andar como quiser, já rebatem dizendo que "então vou pra faculdade peladão".

A primeira coisa é que estamos falando de coisas bem diferentes. A moça não estava peladona. E nem o vestido dela era indecente. Mas o fato é que, mesmo se ela estivesse peladona, mesmo se o vestido dela fosse mesmo indecente, NINGUÉM NO MUNDO poderia ter feito o que aqueles estudantes fizeram. Sério, eu nem acredito no que aconteceu, parece muito Idade Média pro meu gosto.

E pensando bem, na verdade, se você, homem, branco, magro fosse para a faculdade peladão, ninguém faria o que fizeram com a moça da Uniban. Consigo até imaginar. As moças virariam o rosto com vergonha, as mais "assanhadinhas" olhariam para o tamanho do seu documento (e alguns moços também), metade ligaria para a polícia e talvez você fosse levado para a delegacia por ter cometido o crime de atentado ao pudor. Atentado ao pudor. Hah.
Mas considero bastante improvável que as pessoas se reunissem ao seu redor berrando coisas como puto! puto! puto!, ameaçando você de estupro e todo o kit de imbecilidades que vimos na Uniban. E mesmo se te chamassem de puto, bem, isso não é exatamente considerado uma ofensa, não é? Puto pra homem é elogio. He's a Stud, She's a Slut, eis um livro que valeria a pena comprar.

Esse lance de dois pesos e duas medidas é a primeira coisa que muito me irrita. Desde criancinha, quando o irmão pode fazer tal coisa porque é menino e você não porque é menina. Isso me enfurece, hoje muito mais do que antigamente, claro. E não é nem que EU, euzinha, queira que seja tudo liberado pra que EU possa aproveitar tudo e tocar o horror sem correr o risco de ser chamada de puta não. É só porque eu quero que a mulher que for afim de "tocar o horror" possa fazer isso sem ser considerada de menor valor por ninguém, nem seja discriminada nem ofendida. Mas, divago.

Trazendo de volta, eu quero que a moça da Uniban e qualquer moça de qualquer universidade possa colocar uma roupa e, independente de essa roupa ser feia ou bonita (o que é muito relativo, né?), curta ou comprida, mini-saia+top ou burka, eu quero que ela possa sair e voltar para casa com segurança e com a sua auto-estima intacta.

Nenhum comentário: