terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Túnel do tempo: Presa em Blumenau

Esse post eu publiquei em 01 de agosto de 2004, logo depois de o meu visto para os Estados Unidos ter sido negado. Sim, meu sonho como toda professora de inglês era passar pelo menos um ano nos EUA, aperfeiçoando o idioma e vivenciando a cultura americana.

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Raindrops, tears are falling, catch me now I’m falling in your arms, I’m home again… Together forever…

É, e então a minha viagem a São Paulo deu esse resultado. Estou presa aqui, para sempre, porque sou professora e professores ganham pouco, logo, não tenho condições financeiras para me manter nos Estados Unidos.
Muitas pessoas podem torcer por mim e eu amo isso, e podem me dizer que eu dei azar caindo com a pessoa errada no Consulado [maldita crespa nojenta] e tenho que tentar de novo. Amei todas as pessoas que disseram que Blumenau era pequena para mim, e que eu me daria muito bem lá fora.

Amei o apoio recebido, o carinho, as lágrimas (quase) derramadas, os planos, amei procurar na net coisas que eu pretendia comprar durante a minha estada e temporária riqueza, amei sonhar e querer passar 1 ano diferente.

Sei também que todo mundo continua torcendo por mim, desejando que eu tente novamente e que dessa vez dê certo. Mas, honestamente? Não sei se quero tentar de novo. A situação que eu passei apenas nessa tentativa foi estressante demais, foi humilhante demais, e foi frustrante demais. Fui tratada muito mal, pelos funcionários do Consulado que me mandaram arregaçar as calças para ver se eu não estava carregando alguma arma no meu sapato e principalmente por mim mesma, exigindo de mim que correspondesse às expectativas dos outros, e realizasse os sonhos dos outros.

Não quero me vitimizar e dizer que me dispus a tudo isso por culpa dos que me cercam. Mas de certa forma achei que seria legal, achei que combinava comigo, achei que seria feliz porque todo mundo sempre me disse que isso sim era a minha cara.
E talvez eu fosse ser feliz.

Mas, depois de sair do Consulado, desolada e inconformada com o resultado depois de tanto tempo e dinheiro investidos, eu tive que encontrar alguma forma de me consolar. E encontrei: meu visto não foi aprovado pois não era o momento. Não era para ser, ponto. Não era o momento.
Agora, já, eu creio que era o momento sim, eu estava toda empolgada e a situação era propícia, e cômoda. Mas só daqui a alguns anos eu vou poder entender mesmo a conspiração do universo contra essa viagem. Simplesmente não era para eu ir.

O que me faz refletir, novamente, a respeito do nosso conceito de felicidade, e do conceito que eu criei para a minha felicidade. Poder possuir todos os itens da minha wishlist seria ótimo, e isso me deixaria feliz durante algumas semanas. Mas sei lá...

A gente sempre pensa que só vai ser feliz dentro de uma mansão com um carro importado, e estabelece um padrão inatingível de felicidade. Na verdade, nesse instante, muito menos (financeiramente falando) está me fazendo feliz.

Quando eu escolhi a minha profissão, eu tive que aceitar que nunca serei milionária, a não ser por um golpe do destino. Tive que reconhecer que seria mais feliz sendo professora e ganhando aquela mixaria mensal do que sendo qualquer outra coisa, uma advogada, por exemplo, e ganhando tanto quanto a minha mãe.
Eu tive que aceitar que nunca vou conseguir manter o padrão de vida que tenho agora se tivesse que me virar sozinha, ou ter um filho, por exemplo. Tive que escolher entre realização profissional e financeira, e ainda acho que minha escolha foi acertada. Ainda amo estar em sala de aula, e cada vez me empolgo mais para aprender a ensinar (eu ainda sou muito amadora).

E nesse episódio é a mesma coisa. A gente olha com inveja (eu, especialmente) para todas aquelas pessoas que tiveram a oportunidade de fazer um intercâmbio, de viajar pelo mundo, de conhecer as pirâmides do Egito e pensa o quanto seríamos felizes se também tivéssemos aquele conhecimento e aquela cultura.
Daí olhamos para a dona de casa mediana , ou para o cara que trabalha das 5 à 1 na Círculo e pensa o quanto a existência deles é vazia de significado e o quanto NÃO desejamos aquilo para nós mesmos.

Das pessoas desses dois grupos, tenho que reconhecer que vi muito mais felicidade autêntica naqueles cujo estilo de vida desprezamos. Ignorance is bliss... Talvez essa seja a explicação. Mas todas as pessoas realmente cultas que eu conheci e invejei eram inexplicavelmente infelizes. Sozinhas.
Talvez de tanto conhecimento elas se viram sem alguém equivalente para dividir, e acabaram assim. Sei lá. Só sei que...

Meu visto foi negado, eu passei uma barra lá na grande cidade, mas agora, eu não estou triste. Mania de Tipo 3, maquiar as derrotas transformando-as em vitórias? Ou estou realmente feliz? Estarei mentindo para mim?
Nessa corrida para aproveitar meus últimos momentos re-descobri coisas muito legais que perdi com o passar do tempo, re-conheci pessoas com quem perdi contato, re-visitei lugares que nunca mais havia ido. Descobri que quero uma certa pessoa menos do eu pensava e que sou capaz de querer muito mais outra pessoa.

Complexo? Para mim também.

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