terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tunel do tempo: E a decisão foi tomada

Esse post eu publiquei no meu blog em 01 de abril de 2004, falando sobre minha decisão de largar o Direito e seguir como professora.

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Quando eu era pequena eu sempre pegava folhas limpas e fazia de conta que era meu diário de classe, fazia chamada para a minha grande sala composta da minha vizinha e mais ninguém e ensinava coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar.

Adorava brincar de ensinar, e adorava ser cruel com a minha única aluna. Mas daí a gente cresce e cansa de ouvir que professor ganha muito mal, que não é uma profissão a ser escolhida sendo que se pode fazer Direito, Medicina, ou qualquer outro curso que te dê um status e salário muito maior que o de um professor.
Aí eu decidi fazer Direito pq era muito fácil para mim. Minha mãe já é advogada, era só enrolar durante 5 anos, e ganhar de presente toda uma estrutura montada, semi-clientela, além de deixá-la muito feliz e orgulhosa da filha demoníaca que já lhe deu tanta dor de cabeça. Prá que melhor?

No quinto semestre eu me vi no meio de uma aula do professor Lourival Antonino dos Santos e ele fez uma pergunta tão básica mas tão básica (e eu sabia o quão elementar ela era) e eu não sabia responder. Aí eu pensei comigo mesma: que merda eu tô fazendo nessa sala há 2 anos e meio sem saber NADA??? Vi-me completamente sem noção, sem rumo, sem sentido, sem motivação. Eu ia para as aulas da faculdade da mesma forma que ia para as aulas do segundo grau, sem uma razão real. Nunca tive o tesão que muitas pessoas têm pelo seu curso. Conseguir tirar a nota mínima era mais que o suficiente.

Minha vida não precisava ser assim. Eu não precisava ser eternamente uma pessoa frustrada fazendo uma coisa que eu odiava só pq era mais fácil começar, ou só pq eu achava que isso deixaria minha família orgulhosa, ou só pq eu acho chique uma moça bonita dizer que é advogada.
Levei mais 2 anos para assumir essa opinião e encarar de frente o inevitável. É, eu quero ser professora sim, eu quero fazer Letras sim, e aí, qualé o problema? Professor ganha mal, mas é menos gente? É menos importante? Ao contrário...

Sim, eu adoro estar em sala de aula, eu não acho que eu vá ficar louca, eu amo meus adolescentes, eu brinco e rio e faço a maior festa com eles, eu gosto de preparar aulas, eu estou amando trabalhar no Unificado (depois de muita dor de cabeça), e se tem uma coisa na minha vida que está realmente definida e me fazendo feliz, essa coisa é a minha profissão.

A gente tem só 16/17 anos quando faz o vestibular e isso é a coisa mais absurda que um sistema pode impor aos adolescentes. Aos 16 anos vc escolhe o que quer ser para o resto da sua vida? Vc não sabe nem o que quer fazer no sábado à noite!!! Mas tem que saber se quer ser médico, professor, biólogo, whatever.

Acho que a coisa mais inteligente que a minha irmã Ana Carla fez na vida foi não ter se apressado para escolher o curso e fazer um vestibular. Não sabe ainda o que quer fazer??? Não faz nada! Espera, relaxa, trabalha, pensa, analisa, conhece, pesquisa, pergunta. Um dia vc descobre o que te motiva a acordar às 6 da manhã. Um dia uma luz acende em cima da sua cabeça e vc pensa: eu ia amar fazer isso prá sempre.

Escolheu errado? Larga! Pq não? Só pq já fez 7 semestres? Manda à merda, especialmente se vc não vai usar prá nada mesmo. Tipo eu com Direito. Todo mundo fica chocado e repetindo (e eu estou cansada de ouvir) que estava quase no final e eu deveria pelo menos ter terminado. Terminar prá que? ODEIO! Nunca ia trabalhar com isso. Só prá ter o diploma? Prá que? Prá fazer concurso? Não quero! Não vejo razão para continuar investindo. Eu não aprendi NADA nesses 4 anos e duvido que fosse aprender alguma coisa nos 3 ou 4 semestres que faltavam.

Melhor guardar dinheiro e comprar um carro.

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