sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Da Avaliação

Esse problema, entre conceitos e notas que falei em outro post, é simples.

Na verdade, os dois são exatamente iguais para mim, a grande diferença é o que se faz com eles.
Vieram com essa idéia de conceito para que a avaliação fosse mais subjetiva e menos traumática, para que os alunos não tivessem esse stress de "dia de prova", onde se estuda, estuda, estuda tudo que não estudou em 6 meses em apenas 1 dia para atingir uma média 7. No esquema de conceitos, a avaliação é contínua, acontece a cada aula, e para emitir o boletim faz-se uma média desses conceitos das aulas que aconteceram. Nesse caso, como não há provas todas as aulas, dar uma avaliação numérica geraria muitos desconfortos, como reclamações de "por que tirei 7 e não 7,5?" Explicar um Bom é bem mais fácil do que explicar um 7.

Mas, hoje, em muitas realidades e para muitos professores, a avaliação mesmo com conceitos tem a mesma função da numérica: punir os alunos. Puní-los por não ter estudado, por não ter aprendido.

E é aí que mora o perigo. Porque não é para ser assim.

Em uma outra escola em que trabalhei como coordenadora pedagógica, eu tinha instruções claras da rede para ser radical: aluno que não atinge a média - culpa do professor que não soube ensinar.

Hoje eu já vejo que tem muito aluno que realmente não quer aprender, e não levo mais as coisas tão a ferro e fogo. Mas não quer dizer que não seja verdade que a culpa do mau desempenho também é do professor. Eu vejo as avaliações dos meus alunos hoje como um avaliação do MEU desempenho* e não do deles. Com os resultados que eles mostram, eu percebo se consegui ou não motivá-los durante as aulas, se soube ou não incentivá-los a trazer as tarefas em dia, se fui capaz ou não de transmitir o conteúdo, se dei espaço suficiente para que tirassem suas dúvidas, se acompanhei o progresso deles de maneira eficaz. Afinal, se meu aluno foi pessimamente mal na prova final cujo tema gramatical era, por exemplo, Present Continuous, onde é que eu estive o semestre inteiro que não vi essa dificuldade dele e não trabalhei em cima dela??? A responsabilidade é minha! Afinal, não fui eu quem preenchi a avaliação contínua, aula a aula, verificando como ele estava nas quatro habilidades? E eu não vi que ele patinou nesse assunto?

O trabalho do professor mudou. Não é mais sentar, vomitar teoria do alto da sua sabedoria, sair da sala e cada um por si, nos vemos na prova. Bons tempos de pouca responsabilidade, né? Hoje você tem que começar uma unidade com uma avaliação diagnóstica. Tem que saber em que nível cada aluno está para saber o que vai ter que ensinar e que pontos terá que reforçar para que o desempenho seja satisfatório nessa nova unidade. Hoje você tem que deixar claro para o aluno quais os seus objetivos. O que você está fazendo e por que está fazendo dessa forma. O aluno tem que saber o que se espera dele, e o que exatamente você quer com as atividades que passa. E daí também tem que ter a avaliação contínua, essa mesmo dos conceitos, para acompanhar cada aluno individualmente e saber se o que você está fazendo realmente está surtindo efeito. Porque qualquer percalço significa uma mudança de estratégia, antes que seja tarde e se perca mais tempo ainda. E a avaliação final, com nota, é a última coisa, só para ter certeza que tá tudo bem. Porque, se você fez o diagnóstico e a avaliação contínua, você já sabia de antemão que estava tudo bem, e pôde recuperar o que não estava. Num esquema de avaliação como esse, não tem erro. Todo mundo aprende, e a avaliação final é uma mera documentação, só uma comprovação de que você é um ótimo professor.

Dá trabalho, eu sei que dá.
Mas tem jeito melhor?

* Essa auto-cobrança não vale para faltantes e alunos que não fazem tarefa. Esses não aprendem mesmo.

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