segunda-feira, 14 de junho de 2010

Saiu na Época

O que me levou a ficar pensando tanto no aborto e na legalização deste foi uma matéria que saiu na Época (leia aqui).

Finalmente foi feita uma pesquisa nacional sobre interrupção de gravidez, e o resultado pode até ter sido surpreendente para muita gente, mas não fui muito para mim. Os destaques da matéria eu coloco aqui, o resto você pode ler no link que está ali em cima:

* Uma em cada sete mulheres brasileiras entre 18 e 39 anos já fez aborto. Isso significa um grupo de cerca de 5,3 milhões de brasileiras, ou 15% da população no auge da idade reprodutiva.

* Mais da metade das que abortaram (55%) ficaram internadas em decorrência de complicações. Isso sugere aos pesquisadores um problema de saude pública, uma vez que a internação supõe complicações médicas.

* Mais da metade das mulheres conta ter recorrido a remédios. Como só existe no Brasil um medicamento registrado com essa finalidade, cujo uso está restrito a hospitais, a procura por abortivos é um dos pilares do silencioso mercado de medicamentos contrabandeados. O remédio abortivo mais comum tem como princípio ativo a substância misoprostol, mais conhecido por Cytotec. Seu registro foi suspenso no Brasil em 2005, a pedido do laboratório, informa a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde então, qualquer amostra de Cytotec encontrada no país é contrabando.

* A pesquisa rompe alguns mitos sobre o tema, na avaliação dos autores. Primeiro, que a prática seria mais comum entre as mulheres pobres. Os números mostram que o aborto se distribui de forma equilibrada em todas as classes sociais. O segundo mito, reforçado por movimentos religiosos, é que o aborto só seria feito por mulheres que não estão integradas a uma família. Também isso se mostrou falso."Essa mulher sabe o que é uma família e frequenta igrejas e templos".

E daí no decorrer da matéria tem o relato de duas mulheres brasileiras que já abortaram, e eu acho engraçado como a Época consegue ser discaradamente parcial. Os relatos escolhidos deixam óbvio o posicionamento da revista com relação ao aborto: eles são contra. Veja a última frase dos dois relatos:

* Aquele aborto de 1986 nunca me abandonou

* Às vezes me dá uma sensação ruim, mas eu tento esquecer

Desde que eu sou pequena e tinha aquelas aulas ridículas de educação religiosa na escola, escuto relatos parecidos. Eles mostram aqueles filmes abomináveis que só mostram o direito do embrião/feto e onde a mulher é apenas um casulo, descartável, onde o bebê por acaso está - e depois organizam debatezinhos sobre aborto (quem nunca participou de um debate sobre aborto na aula de religião levanta a mão!!!). E sempre nessas aulas, e depois em todas as matérias, artigos e reportagens que eu já li na minha vida sobre o assunto, é a mesma coisa: depoimentos de mulheres que nunca esqueceram no aborto, que ficaram traumatizadas, que quase morreram, que entraram em depressão. TODAS!!!

Ainda bem que eu tenho vida e convívio social para ver que não é bem assim como os "republicanos" (hahaha) pintam. Conheço algumas (várias?) mulheres que abortaram e deu tudo certo e está tudo bem e nem por um segundo elas olharam para trás e se arrependeram do que fizeram. Beeeeem pelo contrário, se pudessem voltar no tempo, fariam de novo. Só talvez não com cytotec, pois dizalenda que dói pacas.

Algumas eram muito jovens e não poderiam lidar com uma criança, outras já tinham filhos e não queriam mais um, outras não tinham condições financeiras para arcar com os custos de um bebê, as razões são inúmeras.

Se você for contra o direito que a mulher tem sobre seu corpo, acredito que todas as suas razões são basicamente legítimas (menos as razões bíblicas, dá licença), mas tira do seu discurso essa parte onde diz que toda mulher se arrepende ou que toda mulher chora ou que toda mulher sente um vazio imenso ou que toda mulher passa a vida imaginando como estaria seu filho hoje se tivesse nascido. Na verdade acho que o que a maioria das mulheres sente é um tremendo alívio.

E se tem tanta mulher fazendo mesmo sendo ilegal, seria um caso de saúde pública.
São todas criminosas??? Devem todas ser presas???

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