quarta-feira, 16 de junho de 2010

Aulas - terror?

Hoje começo a dar aulas em uma escola estadual.

Agora eu quero ver.

Duas manhãs e duas tardes com quinta, sexta, sétima e oitava séries.
Eu, que prometi nunca voltar pra esse mundo, e especialmente pra essa faixa etária.

Já tive essa experiência em 2001-2002. Em uma escola particular em Gaspar. Foi horrível, cada segundo. Lá eu trabalhava de quinta série ao segundo ano do Ensino Médio. Descobri que sou extremamente incompetente. Não conseguia. Não conseguia fazer nada. Não ensinei nada, provavelmente. Não tinha controle da sala. Não tinha respeito dos alunos.

Só que - há! - hoje eu me considero mais boba do que era naquela época. Mais permissiva. Mais complacente. Mais paciente. Do tipo que não sabe impôr limites, sabecomo? E que responde a todas as provocações com um sorrisinho meio assustado meio e-agora-o-que-faço. Perfil perfeito para aulas em escolas de idiomas, acho que não tem aluno que não goste de ter aula comigo. Justamente por isso, porque eu tenho paciência, porque eu nunca sou grossa, porque eu repito as coisas mais óbvias mil vezes sem stress e porque eu não apavoro quando eles não fazem tarefa.

Antes eu não era assim, eu era sacana, eu era mais impulsiva. Comigo era bateu-levou, falou agora vai ter que escutar. Tipo aquele professor que dá mais certo com teens, que não deixa barato, que é paunocu e ainda assim os alunos gostam porque acaba sendo engraçado. Mas ainda assim eu não era sacana o suficiente para conseguir lecionar para aquelas séries lá.

Inglês na escola é tão, mas tão fadado ao fracasso que eu nem preciso comentar. Você estudou em escola regular, teve aulas de inglês, e aí, como foi? Aprendeu alguma coisa? Foram pelo menos 7 anos de inglês, você é fluente?

Não, eu nem preciso comentar, mas eu vou. São 3 os problemas mais horríveis do inglês no ensino regular.

1) Número de alunos em sala
Aprender inglês funciona com prática. E a prática funciona com o professor observando e corrigindo, monitorando e depois trabalhando as dificuldades. Como fazer isso em uma turma com 50 alunos? Já é difícil em turmas com 15! Numa turma gigante, quando há o momento de colocar em prática o que os alunos aprenderam, geralmente colocamos eles em duplas ou trios e eles trabalham pequenas conversas sobre o tópico dado. Enquanto o professor monitora as duplas da frente, por exemplo, os de trás estão falando sobre a festa do próximo final de semana. Os alunos hoje em dia estão tão moldados para trabalhar somente sob terror que, se não tiver o professor-assustador olhando por cima do ombro deles, eles não fazem. É verdade.

2) Turmas desniveladas
Toda turma é desnivelada, mesmo em escolas de idiomas. São tantas habilidades, tantas carcaterísticas diferentes que, mesmo que estejam no mesmo nível, ainda estão em níveis diferentes.
Na escola então, onde não há nenhum tipo de nivelamento, a situação é caótica. Alguns alunos tem computador e internet. Esses já estão familiarizados com algumas palavras. Outros são viciados em jogos de video-game. Esses chegam a ser quase fluentes - já vi cada coisa inacreditável!!! Outros gostam de música, de Justin Bieber, sei lá. Treinam coreografias, decoram as letras, e tem um outro tipo de facilidade. Outros não sabem absolutamente nada. ABSOLUTAMENTE NADA. Já tive alunos que nunca tinham visto a palavra people, e não conseguiram associar famous ao cognato em português, famoso. Não conseguiram.
Faz você se sentir numa daquelas classes multiseriadas de antigamente. Uma sala só, uma fileira de alunos na 1a série, outra fileira de alunos na 2a série, 3a, 4a e o professor se desdobrando em 4 para lecionar as 4 séries ao mesmo tempo. Minha avó estudou assim.
Se você trabalha para os que não sabem nada, você tem 2/3 da sala bocejando e achando tudo um saco e fazendo bagunça. Se você trabalha pelos que sabem mais, bom, sacanagem sua né, deixar os outros pra trás. Se ficar num meio termo, os que não sabem nada viajam igual e os que sabem mais ficam também entediados e fazem bagunça e falam mal da sua aula.
Ou seja, não tem solução viável!

3) Inglês não reprova
Como eu disse, nossos alunos estão viciados em terror. Só trabalham sob ameaças. Só fazem atividades em grupo se você ficar olhando. Só fazem trabalho se valer nota. Eles não estão lá para aprender. Eles estão lá para tirar 7,0 e não apanhar.
Infelizmente, a grande maioria dos alunos sabe que inglês não reprova. Nem educação física, by the way. Inglês só reprova se o aluno reprovar em outra matéria também. Daí pode dizer: reprovou em português E inglês. Mas reprovar só em inglês não pode. Porque inglês não é relevante o suficiente para o aluno merecer uma repetência.

Eu acho que já deixei claro aqui que sou contra reprovação e sou até contra provas tradicionais. Sou mesmo. Mas se o sistema todo funciona assim, e o aluno é motivado a fazer as coisas por causa da ameaça de reprovação, fica meio complicado para o inglês sozinho fazer diferente.

Eu tô morrendo de medo, isso sim.
Porque eu não sei se vou conseguir. Eu ainda não sei qual o material que eles usam, mas como é uma escola lá no cafundó, tem grandes chances de não se usar material nenhum. Localidades mais afastadas costumam ser mais carentes, e por isso as escolas evitam sobrecarregar os pais com compras pesadas de materiais...
Quanto mais eu penso, mais eu piro.

Eu to bem fu.

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