segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De mãos atadas

Assisti há uns finais de semana atrás o filme Escritores da Liberdade.
Tudo lindo. Ótimo. Me lembrou Mentes Perigosas, com a Michele Pfiffer. Também ótimo.

No filme, a professora meio "pati" começa a dar aula em uma escola dominada por gangues. E pá, a história segue como todas as outras de professores e alunos, ela depois de muito tempo e muita resistência consegue conquistá-los e acaba fazendo um trabalho magnífico.

Legal. Boa lição para mim.

Mas só que... Eu ainda me sinto de mãos atadas. Mesmo com esse exemplo fantástico. Porque, de um jeito ou de outro, todos os filmes de professores de sucesso mostram professores que lecionam disciplinas realmente relevantes. E para conseguir a superação foco do filme, eles conseguem trazer o conteúdo para a realidade dos alunos. O ideal de todo professor.

Mas e eu?
Eu leciono em uma escola estadual de uma comunidade que não é necessariamente carente do tipo que manda os filhos para a escola para comer merenda porque não tem comida em casa. Mas é carente. Carente o suficiente para crianças na sexta série estarem pensando seriamente em sair da escola. E que comentam frequentemente que o pai ganha mil reais como mecânico na Coteminas mesmo tendo só a quarta série, então por que eles precisam estudar? Pois para eles, mil reais tá mais que bom, e ser mecânico é o topo.

Não que eu tenha algo contra ser mecânico, longe de mim. Mas como eu, euzinha, vou conseguir relacionar INGLÊS com a realidade deles, e montar um projeto ou um plano de aula que realmente os faça ver que a minha disciplina é relevante para o futuro deles?

Me sinto completamente inútil, lecionando algo que eles não querem aprender não só por não gostar, mas porque não tenho como trazer isso para o dia a dia deles. No filme, ao invés de dar livros clássicos como a Odisséia, de Homero, para as crianças, ela traz livros com histórias reais de membros de gangues. Quando a disciplina é Literatura, eu vejo como fazer. Com várias outras disciplinas, eu vejo como fazer. Mas e inglês?

Alguém?

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