domingo, 6 de março de 2011

Dançando em Blumenau

Tenho um relacionamento complicado com Blumenau. De amor e ódio.
Nasci aqui. Cresci aqui. Estudei aqui. E nunca passei mais do que duas semanas fora daqui. NUNCA. E todos os meus planos de ir embora sempre deram errado. Pior que eu acho que boa parte foi por auto-sabotagem minha mesmo. Tipo quando chegava perto da hora "acontecia" alguma coisa, um emprego novo, um amor novo, algum empecilho.

E é engraçado, sempre nos períodos que precediam a minha pretensa fuga, eu sofria de um saudosismo sufocante. Andava pelo centro admirando cada prediozinho com enxaimel fake. Babava no prédio da prefeitura. Batia foto da ponte de ferro. E amava Blumenau mais do que nunca. Eu tenho sonhos recorrentes da minha infância. Eu sou naturalmente saudosista. Eu SEMPRE sonho com a minha escola, Alberto Stein, e com os momentos maravilhosos que passei crescendo lá. SEMPRE sonho com a minha casa, numa ruazinha da Jorge Lacerda, e não consigo pensar em outro lugar onde fui mais feliz. Sonho que comprei aquela casa pra morar de novo. Queria comprar aquela casa mesmo.

Mas a verdade é que eu sinto que Blumenau é a minha felicidade mas também a minha perdição. Aqui eu estou presa dentro de uma caixinha. Bem pequena. Nada das coisas que me interessam de verdade estão aqui. Tirando raras exceções, sinto que estou cercada de pessoas que não me agradam. Esses direitóides racistas, homofóbicos, elitistas. Não tem os cursos que eu gostaria de fazer. As palestras que eu gostaria de assistir. É uma merda isso. Sempre parece que eu não consigo ir muito pra frente.

Comentei com uma amiga minha que estava pensando em ir embora, de novo. E ela disse que aleluia, estava mesmo na hora de eu amadurecer e ir construir minha vida em outro lugar. Fiquei pensando se era isso mesmo. Se a gente amadurece de verdade quando vai para uma terra estranha, se a gente vira outra pessoa, melhor. Me senti meio Abrão assim, sai da tua casa e da tua parentela blablablawhiskassachet...

Blumenau, quero o divórcio.

Um comentário:

Rosane Magaly Martins disse...

Sempre quis me divorciar de Blumenau e nunca fui saudosista, nem fotografava pontos turísticos, pois acreditava que o que levamos na vida são nossos afetos.

Consegui o deferimento do divórcio. Vivo no lugar que sempre sonhei, tenho uma casa mais linda do que imaginei e me apaixono cada dia mais por esta ilha singular, especial.

Entretanto o que angustiava veio comigo, e meus afetos encolheram e quyase não tenho mais nenhum na minha cidade natal. Creio que um dia chorarei mais pelos monumentos e menos por conta das pessoas e que quererei ser jogada fora num rio qualquer bem longe daqui.

Outro aspecto é que as pessoas são o que são, quem são, em qualquer lugar. Ter circulado por muitos lugares e países me vez perceber que somos globalizados, somos um só planeta e tudo nos afeta e que não há almoço de graça, que ninguém é amigo sem ter um interesse escuso, que só nos movemos motivados pela nossa necessidade, que ninguém ama ninguém a não ser a si mesmo, que o mundo não é bão, sebastião!