terça-feira, 20 de julho de 2010

Aulas na rede estadual

Quando eu anunciei que estaria voltando para a sala de aula regular, mencionei 3 grandes problemas que o ensino de inglês enfrenta nas escolas, e enquanto divagava sobre um deles, falei:

Os alunos hoje em dia estão tão moldados para trabalhar somente sob terror que, se não tiver o professor-assustador olhando por cima do ombro deles, eles não fazem. É verdade.

Olha, se eu soubesse o quanto estava sendo profética...
Essa minha "nova" experiência ainda vai render muitos posts, comentários e tweets, mas eu só queria falar que realmente hoje é assim que funciona o ensino MESMO. Pelo que vi, todos os professores, de todas as disciplinas e todas as turmas só conseguem trabalhar com ameaças. Botar pra fora da sala, mandar pra diretoria, suspensão e dependendo do número de suspensões, o caso é mandado pro Conselho Tutelar.

Por sorte 99% dos pais ali na escola onde estou ainda é um pouco rígido, então os alunos tem algum medo. Mas fico pensando como é que se trabalha em escolas onde os pais já não tem mais o respeito dos filhos.

É triste e é muito frustrante vc aprender uma coisa na teoria (e achar tudo lindo) e ver que é impossível aplicá-la na prática. Pelo menos eu, sozinha, estou de mãos atadas.

Eu sou contra ameaçar, sou contra botar pra fora da sala, sou contra um milhão de coisas que me vejo obrigada a fazer no meu dia a dia. Na 5a série, os alunos "comportados" pediam pelo amor de Deus pra eu pegar logo a régua de madeira e começar a bater na mesa, pois quando os outros professores fazem isso, os alunos ficam quietos na hora. Mas eu ABOMINO essa idéia. Cara... Pegar uma régua de madeira e ficar batendo na mesa feito uma histérica? Sério? Não fiz. Resultado: foram 4 aulas onde eu não consegui dar aula. Não quis botar pra fora, não quis usar a régua, não quis mandar pra diretoria. Queria vencer no bom senso, uma hora eles iam ter que "se ligar" e olhar pra mim. Quatro aulas. Quatro aulas que eles NÃO se ligaram NEM olharam pra mim.

E eu quero ensinar. Eu amo ensinar. Eu só sei fazer isso e é só isso que eu quero fazer. E, po, EU QUERO! Nem que seja só praqueles 5 ali na frente que querem aprender, mas eu quero ensinar! E cheguei a conclusão que esses meus objetivos utópicos de despertar o bom senso neles estavam na verdade prejudicando esses 5 que ficaram olhando pra mim com aquelas carinhas de quem quer ouvir o que eu tenho pra falar!

E resolvi priorizar esses 5, numa atitude que eu também repudio. Não gosto de privilegiar ninguém e não gosto de ignorar ninguém e muito menos de deixar alguém pra trás. Mas eu não vi outra saída.

Daí começou o terror. Só que nem dava pra colocar ninguém pra fora, pois era um BOLO de bagunça tão grande que eu não conseguia pinçar um lá no meio pra fazer de exemplo. Ou mandava todo mundo pra fora, ou ninguém. A coordenadora vinha a cada 10 minutos olhar e perguntar se estava tudo bem e ameaçar suspensão. Até que um finalmente foi suspenso, quando disse que ia sair da sala e que "não tem homem nessa escola pra me colocar aqui dentro de novo". Dois dias em casa. E na última aula a diretora ficou em sala comigo, sentada lá atrás, tb ameaçando suspender o primeiro que abrisse a boca indevidamente.

Me senti frustrada e feliz ao mesmo tempo. Frustrada porque não quero ensinar desse jeito. Odeio essa política do terror. Mas feliz porque ensinei!!! E eles escutaram, e anotaram, e fizeram as atividades e aprenderam.

Mas, professor que porventura me lê, ensino é isso hoje em dia? Por livre e espontânea vontade eles não querem mesmo?

E por favor, não critique a minha incompetência se você nunca esteve em sala de aula. Se eu lesse esse meu post há 1 mês atrás, tb pensaria: mas que pamonha, ela está fazendo tudo errado! Até ver que educação na prática não é tão simples e tão bonita quanto pintam em livros.

Nenhum comentário: