quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Escotismo

Texto que eu achei bem esclarecedor, escrito pela Marília, do www.mulheralternativa.net!
O assunto surgiu no meio de uma discussão da nossa lista de Blogueiras Feministas, sobre se o Escotismo é uma atividade válida para as nossas crianças ou não, e essa foi a resposta dela a alguns questionamentos postados pelas meninas!

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O movimento escoteiro é um movimento conservador. Assim como o movimento estudantil. Tenho, aliás um amigo que fez o mestrado comparando o conservadorismo dos dois movimentos.

A "base" dele nunca foi paramilitar. O objetivo do movimento sempre foi educacional. Em 1906 o "educacional" que um ex-militar inglês pensou era, inclusive, bastante libertador pra época - por exemplo, com capítulos sobre educação sexual para meninos e, depois no movimento bandeirante, para meninas. Da mesma forma que as aulas de educação sexual reproduzem o que hoje é tido como "certo" sobre sexo, com todos os preconceitos que isso carrega, os capítulo do Robert e da Olave também o faziam, inegável. Mas que falar deste assunto para jovens abertamente era novidade, isso era.

O cara que fundou o escotismo, Robert Baden Powell, não teve grande educação em casa. Como foi no exército que ele aprendeu a se virar sozinho, achou que podia compartilhar com jovens rapazes estes aprendizados em idade anterior. Isso não significa só fazer fogueira ou fazer a própria comida (meus amigos escoteiros MENINOS todinhos cozinham, cuidam da própria comida, limpam a própria casa, etc), mas ser atuante em sua comunidade, respeitar as pessoas, etc e tal. Não tem nada dessa história de grupo de apoio à colonização da África. Não sei de onde alguém pode ter tirado isso isso - foi do cerco de Mafeking? Porque não tem nadinha de nada a ver.

Sobre a estrutura hierárquica, não existe instituição que não tenha estrutura hierárquica. Eu não consigo pensar em nenhuma. Adoraria que tivesse, mas não tem. O que não quer dizer que não haja instituições mais ou menos igualitárias - a questão é o papel que a hierarquia cumpre.

Talvez todos devessem procurar se informar melhor sobre o que são os valores do movimento escoteiro hoje. Existe um esforço mundial sendo feito para que em todos países haja uma transformação efetiva de práticas. Isso ainda não chegou em muitos lugares mas no meu grupo escoteiro, por exemplo, crianças de 7 anos tem voz e voto representativo em assembléias. Fazemos fóruns de jovens. Formações pros adultos sobre educar com igualdade de gênero. E por aí vai. A primeira prioridade estratégica do escotismo mundial é garantir jovens nas instâncias decisórias e de poder das organizações nacionais do escotismo. É uma batalha, mas isto está mudando - a UEB por exemplo tem hoje muito mais jovens atuantes do que jamais teve e isso é resultado de uma luta muito grande de muita gente no movimento. A terceira prioridade estratégica é garantir igualdade de gênero. Óbvio que desta estamos mais longe ainda - como exigir que uma instituição garanta igualdade de gênero num contexto em que a própria sociedade não garante? E aí aparecem diferenças enormes de país para país. Lidar com um movimento que agrega muitas culturas e valores é bem complexo.

Sobre a "tríade" original "Deus, pátria e próximo", se você for em grupos escoteiros onde os adultos tem um pouco de acesso ao que a UEB exige como valores, vai ver que isso já foi reinterpretado para "espiritualidade", "cultura", etc.

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