terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Eu vivo pra isso. - Rapidinhas

Ai...
Amei né.

Amei que ontem concluí a última disciplina do terceiro semestre de Pedagogia. E foi lindo que na prova caiu tudo que eu sabia. Linguística, dominei você.
Eu não canso de falar que a minha média geral está em 9,7. E vai continuar. Porque meudeus como eu estudo... Não parece, eu sei, pq passo o dia inteiro no Twitter. Mas eu sou multitarefa, e estudo pacas mesmo tuitando asnices durante todo o dia.

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Odiei.
Odiei infinitas vezes a Ariadna ter saído do BBB.
Porque não tem desculpa né. Ela não é chata, ela não brigou com ninguém, ela não fez absolutamente nada de errado.
Eu quero perguntar pras pessoas na rua por que é que elas votaram na Ariadna. Eu quero saber o que os outros viram de tão ruim que eu não vi. Quero saber. Mas tô morrendo de medo de descobrir o que já desconfio: foi puro preconceito. O Brasil odeia a diversidade, ok, anotado aqui.

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Eu tô numa fase toda nova. Meu horóscopo já disse. Disse que em janeiro eu concluo um período muito difícil da minha vida, que já durava 2 anos. Olha só, mas que coincidência. Vivi 2 anos de verdadeiro inferno. Sofri como nunca pensei que fosse sofrer. E passei exatos 10 meses absolutamente recolhida, lambendo as minhas feridas, esperando por dias melhores.

E daí fiz aniversário. E foi demais pra minha cabeça. O dia anterior ao meu aniversário foi, tranquilamente, o dia mais feliz dos últimos 5 anos. Eu estava eufórica. Elétrica. Quase histérica. Pode olhar os meus tuítes do dia. Estava mesmo. Estava sambando ao som de Seu Jorge, uma música que nem é alegre, mas é linda e me faz ter vontade de rebolar e batucar. E todo dia desde então tem sido assim. Uma felicidade que não cabe em mim. Que loucura isso... Sentir que, finalmente, eu me completo de novo. Eu sou a tampa da minha própria panela.

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Uma pilha de livros pra ler. Vou reler Backlash primeiro, porque estou participando do Círculo de Leitura com as minhas moliéres.
Daí tem Casa Grande & Senzala, que prometi pra mim mesma que ia ler esse ano.
E depois uns outros de Linguística, porque eu super amei o assunto.

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2011, vc vai ser tudo de bom, que eu sei!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

I have a dream

E então que hoje é Martin Luther King Day.

Esse cara foi O cara. Não tem como assistir ao discurso mais famoso dele, I have a dream, e não se emocionar. E fico muito surpresa de saber que isso tudo aconteceu ainda ontem. Ainda ontem, agorinha, em 1963. Pensa bem cara... Há somente 48 anos, negros não podiam votar em muitos estados dos EUA. Negros tinham banheiros separados. Negros ocupavam a parte de tras dos ônibus. Umas coisas assim que na nossa cabeça fazem parte da Idade Média. Mas não. Foi ontem.

Eu acho interessante quem acha que pá, que tá tudo bem hoje em dia. Que meritocracia existe e funciona, ainda mais aqui no Brasil. Que é só lutar e se esforçar, e o céu é o limite - afinal, olha só o exemplo do Sílvio Santos né? Bem coisinha da direita isso, e bem por isso que eu odeio qualquer coisa que lembre a direita.

Vamos tirar 5 segundos, em memória de Martin Luther King e repensar saporra toda de meritocracia. Né? 49% do Brasil é de negros/pardos. Mas essa proporção não existe em cargos de chefia, em cargos políticos, em escolas particulares, em universidades. Enquanto 26% de pretos e 30% de pardos ganham ATÉ 1/2 salário mínimo, apenas 12% de brancos está nessa mesma situação.

Então... Meritocracia né?

É só se esforçar um pouco, batalhar, e daí a gente chega lá. O que significa, logo, que mais ou menos 30% de pardos e pretos são simplesmente... VADIOS? Não, não pode ser, eu conheço vários que são trabalhadores. Então... Eles só tem menos capacidade, é isso? São... mais burros? Talvez alguma falha genética então?

Porque, se não existe preconceito nesse paraíso que é o Brasil, temos que achar uma outra explicação, né?

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Na verdade, quando eu finalmente desmistifiquei esse lance todo de meritocracia foi que a minha visão DE MUNDO mudou. Comecei a ver TUDO com outros olhos. E comecei a me revoltar toda vez que ouço/vejo um discurso pregando o esforço pessoal como solução de todos os problemas. Aham, Claudia, senta lá.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A tia solteirona

Tem uma coisa específica que tem me incomodado muito nos últimos tempos, que é o rótulo de tia solteirona. Até porque esse é um conceito totalmente construído e embutido em nossas mentes desde que nascemos. Uma coisa tão bem feita e tão bem tecida que a gente até pensa que chegou a essa conclusão sozinhos, por observação.

"Um levantamento de 1990 descobriu que quase 60% das mulheres solteiras acreditavam ser muito mais felizes do que as suas amigas casadas e que as suas vidas eram 'muito mais despreocupadas'"

Claro, talvez isso tenha chamado tanto a minha atenção porque eu sou solteira. E recebo olhares e conselhos e ajuda de amigas casamenteiras. Mas chamou muito mais por observar ao meu redor como as mulheres em geral têm horror a essa possibilidade, a possibilidade de chegar a certa idade sem um marido para chamar de seu. O pesadelo de ficar pra titia. E o desespero de se agarrar em qualquer fio desencapado só porque não consegue ficar sozinha. Huh?

"A maioria das solteiras entre 45 e 60 anos afirmava não desejar o casamento."

É que a gente aprende desde pequena, né. Menina, não senta de perna aberta. Menina, não fala palavrão. Sempre (ou quase sempre) conselhos válidos, claro, mas seguidos da pior ameaça do mundo: assim ninguém vai querer namorar com você! Também tem o velho quando casar sara. Que no começo eu entendia como: vai demorar muito pra você casar, então vai dar tempo de sarar. Mas li em algum lugar e faz todo sentido do mundo: casar acaba com todos os seus problemas e com todas as suas dores.

Não, né?

"Uma análise dos dados de pesquisas oficiais do governo realizadas nos anos 70 e 80 registrou um aumento de felicidade de 11% entre as mulheres solteiras de 20 e 30 anos - e uma queda de 6,3% entre as casadas com a mesma idade. [...] Após entrevistar 60 mil mulheres, descobriu-se que só a metade delas gostaria de se casar novamente com o marido se tivesse que fazer tudo de novo."

Quando eu trabalhei numa escola aqui em Blumenau, lembro de todas as mulheres sentadas na mesa almoçando e revezando para falar mal do marido. Marido que não ajuda, marido que só quer saber de pescar, marido que não deixa usar mini-saia, marido que não gosta de dançar e não deixa a mulher dançar com outros. Não era só falar por comentar, era um discurso carregado de mágoa e ressentimento, boa parte delas não era feliz no casamento MESMO, e não amava mais seu marido há muito tempo. Mas ficar solteira? Deus me livre!

"Se há um padrão que os estudos psicológicos demonstraram é justamente aquele que diz que a instituição do matrimônio tem um efeito imensamente benéfico na saúde mental do homem. 'Estar casado', avaliou uma vez o eminente demógrafo do governo Paul Glick, 'é cerca de duas vezes mais vantajoso para o homem do que para a mulher em termos de sobrevivência.'"

E em determinado momento uma delas olhou para mim e disse: a Geórgia é feliz e não sabe!!! Respondi na lata, sem nem titubear: sei sim!!! E como sei!

Mas não é que eu seja contra o casamento/união/relacionamentos em geral. Não mesmo. Adoro namorar, adoro estar apaixonada, adoro sentir borboletas no estômago. Mas sou 100% contra essa cultura que reina, a do antes mal acompanhado do que só. Essa crença universal que uma mulher na minha situação, por exemplo, solteira aos 29 anos, seja infeliz, amarga, mal-amada, mal humorada - e que esteja desesperadamente a caça da tampa de sua panela. Eu ODEIO quando desejam que eu encontre um namorado (e sempre desejam, no Natal, Ano Novo e a cada aniversário). Como se arrumar um namorado fosse ser a solução de todos os meus problemas. Como se eu não tivesse outras prioridades. Como se não ter um compromisso sério me fizesse menos feliz e satisfeita com a minha vida. E tem mais né. Se a mulher é solteira, é porque ninguém a quis, então obviamente ela deve ter algum problema sério, ser frígida, ser louca ou ser promíscua. Mas nunca pode ser porque ELA não quis, porque ELA não encontrou ninguém que a fizesse realmente ter vontade de casar - ou porque ela simplesmente não quis encontrar.

"Os dados sobre saúde mental, registrados em dezenas de estudos sobre o casamento durante os últimos quarenta anos, são consistentes e inquestionáveis: o índice de suicídios em solteiros é o dobro comparado aos homens casados. Os solteiros sofrem quase duas vezes mais de graves sintomas neuróticos e são muito mais sujeitos a esgotamento nervoso, depressão e até pesadelos. E apesar da imagem tipicamente americana do caubói solteiro sem preocupações, na realidade o homem sozinho tem muito mais tendência a ser melancólico, passivo e cheio de fobias do que o casado. [...] Numa pesquisa, um terço dos solteiros apresentou graves sintomas de neurose: os mesmos sintomas só apareceram em 4% das mulheres solteiras."

Eu devo ter nascido em outro planeta mesmo, porque nunca me estressei com a solteirice. Namorei dos 16 aos 18 anos, e depois fiquei 7 anos solteira (sim, SETE ANOS). Daí namorei 3 anos e agora estou há 10 meses solteira. E pronta para encarar mais sete anos, se rolar. E morando onde eu moro, cercada de machistas, direitistas, conservadores e todos os outros xingamentos que para eles é elogio, as chances de eu morrer solteira são altíssimas. Ok, fine by me. Mas não vou namorar por namorar, só para dizer que estou com alguém, só para ter companhia na festa de fim de ano da empresa. Mas a pressão é tão grande, e a cara de pena das pessoas é tão genuína, que eu só fui descobrir que não, eu não estava louca, quando li Backlash, da Susan Faludi. Aliás, todas as citações desse post são desse livro.

"Em levantamentos nacionais, menos de um terço dos divorciados afirma terem sido eles que queriam o divórcio, enquanto as mulheres afirmam que estavam pedindo o divórcio em 55 a 66% dos casos. Os homens também ficam muito mais arrasados do que as mulheres com a ruptura - e o tempo não alivia a dor nem cura a ferida. Uma pesquisa sobre pessoas divorciadas descobriu, em 1982, que um ano após a separação 60% das mulheres consideravam-se mais felizes em comparação com apenas a metade dos homens; a maioria das mulheres disse que tinha mais respeito por si mesma, enquanto só uma minoria dos homens sentia o mesmo. A maior pesquisa de âmbito nacional sobre os efeitos a longo prazo do divórcio descobriu que cinco anos após a ruptura 2/3 das mulheres achavam que sua vida era mais feliz; só 50% dos homens tinham a mesma opinião. Chegando à marca dos 10 anos, os homens que diziam ter sua qualidade de vida estacionada ou piorada subia da metade para 2/3. Enquanto, depois do mesmo número de anos, 80% das mulheres diziam que o divórcio havia sido a decisão certa, somente 50% dos ex-maridos concordavam."

Mas a cultura reforça tanto o estereótipo da tia solteirona, que as mulheres não acreditam que exista felicidade na vida de solteira. Mesmo que os relatos, os depoimentos e estatísticas comprovem o contrário. Eu acho isso uma coisa muito louca. E acho que o livro tem razão, quando fala que muitas mulheres até então despreocupadas com o fato de estarem solteiras, começam a repensar isso depois de ver e ouvir tanta coisa sobre os males da vida sem casamento. Porque a gente não vê ninguém na TV exaltando os benefícios de ser solteira, ou simplesmente divulgando que mulheres solteiras também são felizes. A gente só vê o contrário. E daí a gente (eu inclusive, antes de ler Backlash) começa a pensar: hummm, eu sou solteira... Perae, tem alguma coisa errada.

E isso, queridas mulheres, é o backlash (que é um conceito sociológico, além de ser título de livro): uma reação popular negativa a alguma coisa (nesse caso, o feminismo) que ganhou popularidade, proeminência ou influência. É o reflexo de um ressentimento coletivo. De uma cultura que não pode aceitar que a solteirice seja benéfica para as mulheres, porque se for, ó Deus, o que será da família, do casamento, das crianças, da igreja, da direita reacionária, do conservadorismo? Tem que se lutar contra!